sexta-feira

Lula mente em defesa do projeto

Transposição do rio São Francisco: Presidente procura deslegitimar opositores da obra com argumentos falsos

Luís Brasilino, Brasil de fato, da Redação

Depois de fazer vista grossa aos seguidos apelos de frei Luiz Flávio Cappio para debater, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a se pronunciar a respeito da transposição do rio São Francisco no primeiro dia da greve de fome, 27 de novembro.
Em entrevista à TV Record, ele disse: “O bispo me coloca numa situação complicada, porque eu tenho que escolher entre ele, que está fazendo uma greve de fome premeditada, e 12 milhões de nordestinos que precisam da água para sobreviver”.
Essa não é a primeira vez que o presidente procura deslegitimar os opositores do projeto jogando-os contra a população do Semi- Árido, a qual seria, supostamente, beneficiada pela obra. Em artigo publicado pelo Brasil de Fato, em outubro, o sociólogo Ruben Siqueira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) lembra que “volta e meia Lula diz que só é contra a transposição de águas do rio São Francisco ‘quem tem água Perrier na geladeira’”.
Ao adotar tal postura, o presidente ignora os 34 anos que frei Luiz dedicou à população pobre que vive às margens do rio São Francisco. Em 1993, por exemplo, Cappio iniciou uma caminhada de um ano, da nascente até a foz, com o objetivo de se reunir com as comunidades para discutir a importância de preservar o rio.
Com suas declarações, Lula também relega a história de diversas organizações sociais e populares que se posicionam contra a transposição, como a Via Campesina e a Articulação do Semi-Árido (fórum que reúne mais de 750 instituições da sociedade civil na região).

Propaganda enganosa
Pior, para entidades e especialistas no Semi-Árido, o presidente mente ao afirmar que a transposição levará água para 12 milhões de pessoas. Em carta ao “Povo do Nordeste” divulgada no dia 29 de novembro, frei Luiz explica:
“A seca não é um problema que se resolve com grandes obras. Foram construídos 70 mil açudes no SemiÁrido, com capacidade para 36 bilhões de metros cúbicos de água. Faltam as adutoras e canais que levem essa água a quem precisa. Muitas dessas obras estão paradas, como a reforma agrária, que não anda. Levar maiores ou menores porções do São Francisco vai tornar cara toda essa água existente e estabelecer a cobrança pela água bruta em todo o Nordeste. O povo, principalmente das cidades, é quem vai subsidiar os usos econômicos, como a irrigação de frutas nobres, criação de camarão e produção de aço, destinadas à exportação. Assim já acontece com a energia, que é mais barata para as empresas e bem mais cara para nós. Essa é a verdadeira finalidade da transposição, escondida de vocês. Os canais passariam longe dos sertões mais secos, em direção de onde já tem água.”

Comprovação científica
Existem estudos técnicos de sobra para embasar a colocação de frei Luiz. Um documento de outubro de 2004 da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), por exemplo, alerta para os riscos de se estabelecer sérios conflitos entre os Estados doadores e os receptores, uma vez que o projeto do governo federal prevê a retirada de até 47% das águas disponíveis do rio São Francisco.
Até mesmo o Banco Mundial emitiu, em outubro de 2005, parecer contrário à obra. A instituição multilateral recomenda que, antes da transposição, sejam realizadas ações para evitar a escassez de água e garantir a segurança hídrica do Nordeste. Já a Agência Nacional de Águas (ANA) não incluiu o projeto no seu Atlas do Nordeste, de dezembro de 2006, com 530 obras alternativas para garantir o abastecimento de mais de 1.300 municípios e de 34 milhões de habitantes da região.

Desnecessária João Abner, hidrólogo da Universidade Federal do Rio Grande Norte, revela que não existe nos Estados do Nordeste déficit hídrico, justificativa utilizada pelo governo para fazer a transposição. Para ele, a obra é uma injustiça com os povos que vão doar a água (alagoanos, baianos, mineiros, pernambucanos e sergipanos). Estes possuem uma disponibilidade hídrica de 360 metros cúbicos por segundo (m³/s) para abastecer uma população de 13 milhões de pessoas.
Já o Ceará, por exemplo, que vai receber as águas da transposição, possui 215 m³/s para 7,5 milhões de pessoas. Segundo Abner, o mesmo acontece com o Rio Grande do Norte. Ou seja, tem menos água nos locais por onde o Velho Chico passa, e não o contrário. Além disso, o professor acredita que a transposição vai elevar em cinco vezes o custo da água.

Quanto
5
vezes mais cara ficará a água se a transposição for concluída.

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